quarta-feira, fevereiro 04, 2009

AS NOSSAS BICICLETAS BRANCAS

A infância e a adolescência passaram e com elas as bicicletas. A caminho do Parque Ecológico da Pampulha vou tentando me lembrar como era a última bicicleta que tive. Era rosa, com um cestinho na frente e quase sempre passeava com ela pela Lagoa da Pampulha. Isso já tem muito tempo, mais de quinze anos. Sempre que pensava em andar de bicicleta novamente, muitos empecilhos me impediam. Bom, tinha que comprar uma e sabia que não ia ser barato. Incluem-se aí os acessórios todos. Tinha que ter lugar para guardar no meu minúsculo apartamento, e o mais importante: um bom lugar para pedalar freqüentemente. Sendo assim, desistia.
Com esses pensamentos ainda pairando no ar, caminho pelo Parque impressionada com sua magnitude e a promessa das sombras das inúmeras árvores ainda por crescer. Duas, três, quatro bicicletas passaram por mim tranqüilamente, andavam pela grama, percorriam felizes os vinte hectares de área verde do Parque. Eram iguais essas bicicletas. Brancas. Caminhando mais um pouco descubro um bicicletário em pleno Parque. Elas ficam lá só esperando um dono de ocasião querendo pedalar. “E de graça!”, me conta um visitante, minutos antes de montar em uma delas. Wander Gomes é policial, tem duas filhas e três bicicletas guardadas em casa. Ele explica que criança tem fase, agora as coitadinhas estão lá esquecidas, mas foi só ver essas do Parque que os olhinhos brilharam. Wander entregou sua carteira de identidade e saiu pedalando seus trinta minutos de direito depois de ouvir atentamente os “podes não podes” da brincadeira.
Descubro que essas vinte bicicletas brancas fazem parte de um projeto piloto chamado “Bicicletas para Todos”, implementado pela Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte em 2004. A idéia é antiga como o antigo continente, me explica um dos monitores do Parque. O projeto nasceu baseado no Plano das Bicicletas Brancas, implementado em 1968 em Amsterdã, capital da Holanda. Em um momento de agito político no país, o grupo anarquista Provos teve a idéia de distribuir pelas ruas da cidade uma série de bicicletas pintadas de branco. Elas seriam usadas livremente pela população. Quando chegassem ao destino, cada um deixaria a bicicleta para outra pessoa utilizar. A ação não foi bem aceita pelo governo, que recolheu as bicicletas com a justificativa de que a ação seria um incentivo ao roubo. O que não aconteceu na Pampulha. As bicicletas são as mesmas, nunca foram levadas ou depredadas.
Resolvo tomar coragem e pedalar. Enquanto espero na fila – era quase meio dia e mais de 40 pessoas já tinham pedalado naquele sábado - converso com uma psicóloga que mora em um apartamento em Contagem, Juliana Pereira. Ela me diz que vem ao Parque só para se exercitar e, como eu, não tem bicicleta. “Mas você poderia caminhar na sua cidade. Porque prefere bicicleta?” Pergunto, meio esquecida das sensações que esse ecológico meio de transporte provocam. Ela pensa um pouco e diz: É a brisa. Sem a bicicleta eu não sinto a brisa. Concordo com Juliana momentos depois, ouvindo o barulho do cascalho embaixo das rodas, apreciando uma bela vista a passar por mim ao sentir o vento acariciar os meus cabelos.


PROJETO BICICLETAS PARA TODOS
PARQUE ECOLÓGICO DA PAMPULHA – Av. Otacílio Negrão de Lima, 7111
FUNCIONAMENTO DO PARQUE : SEXTA A DOMINGO DE 8H30 – 17H
FUNCIONAMENTO DO BICICLETÁRIO: SEXTA A DOMINGO DE 9H – 16H30
PARA O EMPRÉSTIMO É NECESSÁRIO DEIXAR A CARTEIRA DE IDENTIDADE DE UM RESPONSÁVEL MAIOR DE 18 ANOS. É PERMITIDO O USO DAS BICICLETAS POR CRIANÇAS ACIMA DE 12 ANOS.
INFORMAÇÕES: 31 - 3277- 7100
ENTRADA FRANCA

3 Comentários:

Às 12:11 PM , Blogger Isa Discacciati disse...

Espetacular essa sensaçao da brisa, da liberdade e de fazer uma coisa tao longe dos nossos habitos cotidianos. Na ultima viagem, em Barcelona e Milao, vi um projeto parecido.Em varios pontos da cidade existiam estes bicicletarios.Com um carteirinha registrada voce liberava a bike,pedalava até o bicicletario que quisesse e devolvia. Com isso,pode-se evitar o metro lotado,o onibus que demora e o carro que te estressa..Ainda por cima volta a ter a tal sensaçao de liberdade,a tal brisa gostosa.Por que a gente tem trocado as coisas simples por outras tao complicadas?
Bjos e escreva sempre

 
Às 1:56 PM , Blogger Mago disse...

Lembrei-me da primeira vez que andei de bicicleta, eu era pequeno e a bicicleta grande, uma caloi feminina na cor verde metálca que pertencia a um tia minha. caí muito até aprender a andar, já que sentado no banco não alcançava os pedais pedalava em pé. Lindo texto, e ótimas lembranças. Aqui em sampa tem bicicletaria nos parques, mas são todas pagas, 6 reais uma hora... Um grande beijo do mago e tudo de bom!

 
Às 12:32 AM , Blogger Rodrigo Vianna disse...

Só de pensar nesta brisa, dá vontade de ter um amor (eu tenho, yupieeeee!!!!) e levá-la para experimentar as coisas que esquecemos... Obrigado, Carolina, por se fazer de minha memória!!!

 

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