sexta-feira, fevereiro 03, 2006

MEUS VINTE E MUITOS ANOS


É com vinte, vinte e poucos anos que tudo acontece, ou pelo menos deveria, ou achamos que deveria. Pois eu agora tenho vinte e nove. E agora? Mais uma década termina na minha trajetória e eu sei que muita gente começa a ter uma certa coceira nessa idade. Uma pulguinha atrás da orelha, um pouco de desconforto e um pingo de melancolia. O motivo talvez esteja na nossa pressa de realizar, pressa de fazer, pressa de conquistar e absorver própria dos jovens. Com tanta pressa não se chega bem em lugar algum, e se chegamos, logo já começamos a contestar e a duvidar da certeza que antes tínhamos de que era neste lugar mesmo que queríamos chegar.
Depois de tudo traçado em nossa cabeça começamos a colocar os planos em prática, e tudo o que esperamos de repente começa a acontecer. Vestibular, faculdade, um amor de verdade, sair da casa dos pais, juntar as escovas de dente com um encantador sexo oposto, conseguir se manter, pagar todas as contas sem pedir socorro para os pais, se virar como dona ou dono da casa, ter um trabalho promissor, gostar da profissão, gerar um filho ou comprar um cachorro, conseguir uma promoção, continuar gostando da profissão, dar conta de arcar com o custo de vida (que só aumenta) de um adulto de verdade, sair e se divertir como nunca pois você é livre e dono do seu nariz, criar bem seu filho, ouvir som na maior altura a hora que quiser, ir ao cinema e depois tomar um chopp pra discutir política e economia, fazer um mestrado... Ôpa, peraí, não deu tempo ainda de fazer isso tudo não! Nunca conseguimos tudo o que planejamos e sonhamos na nossa primeira década de vida enquanto brincamos de casinha ou de médico com o coleguinha. Passamos metade da vida achando que quem tem trinta anos é velho e pronto, sem mais o que fazer do que invejar quem ainda está começando.
O que já temos que SER aos trinta? Eu só sei o que ainda não sou. Não sou rica, não tenho sucesso e nem sei o que vou ser quando crescer, pois já cresci e não sou mais quem eu queria ser com 18 anos de idade. Ao mesmo tempo sou muito mais do que um dia vislumbrei ser. Duvidei ser capaz de ser tanto e continuar a não ser completa. Invejo meus vinte e poucos anos, porque sabia com todas as letras o que eu queria ser e fazer, mas agora que já fiz tanto não sei como e nem pra onde seguir. Preciso querer mais do mesmo ou posso revirar a mesa e me reinventar? Ainda tenho tempo pra começar como quem começa aos 20?
As rugas já começaram a aparecer e os primeiros cabelos brancos. Um cansaço estranho toma conta do meu corpo por quase nada. Não tolero bem um porre, não gosto mais de multidão e, se perco uma noite de sono demoro uma semana pra me recuperar. Cada vez mais gosto de blues e jazz, já não sei o nome da mais nova banda pop do momento e muito menos da boate mais badalada. Fico preocupada com meus irmãos mais novos e meu programa favorito é um vinho num bom restaurante. Sou tão jovem e tão velha ao mesmo tempo.
Enquanto tento, com todas as minhas forças, conservar o que já conquistei fico mais tempo na janela, plácida, a meditar. Quase sempre é um branco que insiste em me dar. Só penso nos 29, 29, 29... Como se fosse uma contagem regressiva e eu já estivesse há muito atrasada.
Só falta um.

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