quinta-feira, março 08, 2007

O SOL E A LUA


Clarisse era clara como o dia. Noêmia era negra como a noite. Nasceram no mesmo dia do mesmo ano na mesma família. Tudo dividiam e tudo tinham e nada possuíam.
Os astros no céu diferenciavam Clarisse e Noêmia. Talvez por isso eram tão diferentes, essas meninas. Além da cor da pele, dos cabelos e do formato do corpo, o coração e os quereres. Mesmo que todos esperassem o mesmo de cada uma delas, eram total e completa dissimilitude.
Uma era a raiz, a outra o vôo. Uma era a conquista, a outra a espera. Uma multidão, a outra solidão. Amigos, Amor. Família, Liberação. Roupas, Livros. Viagem, Trabalho.
Eram tão opostas essas meninas que elas, um dia, concordaram que as vidas unidas não poderiam ser nunca duas inteiras. Foi Noêmia... Juntou suas coisas, que não eram de Clarisse, e se foi sozinha, pela metade.
Cada uma passou a viver sem o naco daquilo que não eram, sem os objetos de que não gostavam e a vida que não escolheram.
Não muito tempo se passou para que Clarisse murchasse, sentada na beira de sua cama, paralisada. Só se moveu quando resolveu fazer sua mala e partir.
Encontrou Noêmia sob o céu estrelado de uma noite fria. Ela já tinha tudo o que era seu novamente empacotado a esperar por Clarisse. Quando os olhos claros viram os escuros perceberam que era impossível viver longe daquilo que não eram.

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