sexta-feira, janeiro 05, 2007

PASSE DE MÁGICA


Quando era adolescente, Juca teve uma experiência numa tarde de outono que nunca mais saiu das gavetas de suas lembranças. Não porque fosse algo tão impressionante assim, mas porque a partir desse dia ele teve certeza de que ele era uma pessoa especial e que coisas especiais iriam acontecer na sua vida. O acontecimento o provou, em questão de segundos, que a força do seu pensamento e do seu desejo eram tão grandes que nada poderia detê-lo.
Juca estava com alguns amigos num barzinho conhecido do bairro onde morava. Era a primeira vez, talvez a segunda, que ele saía sozinho com sua turma para se divertir. Daquele dia ele não se lembrava de muita coisa, só a sensação de liberdade e as possibilidades que a vida poderia oferecer a ele a partir daí.
O tempo voa em dias assim. Quando olhou no relógio viu que já estava no horário que tinha marcado com sua mãe de buscá-lo. Foi para o local combinado, um pouco afastado da mesa em que estava, na rua abaixo do bar. O vento soprava uma brisa gostosa e a lagoa em frente estava mais bonita e brilhante do que ele conseguiria imaginar. Levou um amigo com ele e ficaram lá parados, de pé, esperando e jogando conversa fora de menino. Tudo que diziam era tão importante que não tinha importância. Juca ia falando de olho no trânsito para reconhecer o carro da mãe.
De repente avistou um carrão daqueles! Era o seu preferido: importado, branco, quatro portas e com bancos de couro. Algo incomum naqueles dias... aparecer assim um carro importado tão bonito assim. Quantas vezes já não tinha cobiçado um desses? Deu um sorriso aberto, cutucou o amigo e disse brincando:
__ Olha aí, cara, esse aí é o meu carro. Tô indo então. Tchau, viu?
O amigo riu debochando enquanto observava o rosto estupefato de Juca quando o carrão parou exatamente na sua frente. A porta se abriu e a mãe de Juca saiu sorridente de lá de dentro. Ele não entendeu nada até que viu uma amiga de sua mãe no volante.
Ele entrou no veículo achando que era o Todo Poderoso e saiu acenando pro amigo que ficou lá parado esperando sua vez.
Até hoje, homem feito, Juca se impressiona a cada vez que quer algo com toda a força do coração e seu desejo não se realiza como num passe de mágica. Como naquela tarde de outono que não se repetiu nunca mais.

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