sexta-feira, março 30, 2007

APARECIMENTO


Ela me disse:

__ Foi a música que te salvou.

Eu falei que sentia isso mas que eu não sabia explicar o porquê.

__ Assim as palavras saem de dentro de você.

Respondi que já estava sentindo um bolo no estômago há tempos, e que nenhum remédio era capaz de me curar.

__ Sente dores na barriga? Perguntou.

Eu disse que as dores se espalharam pelo o corpo inteiro, pouco a pouco. Agora não mais...

__Você resolveu colocar um ritmo seu nas palavras que moram aí dentro.

Era isso, já não bastava expulsar as palavras pelos dedos das mãos. Era preciso usar a boca-língua-laringe- cordas-pulmão-voz.

__ Você escrevia, mas para isso precisava se calar. Mas a voz continuava lá. Se não cantasse não conseguiria escrever, então.

Não me sentia capaz de usar minha voz. Enquanto não fiz isso, as palavras se acumularam em mim. Agora só as liberto se uso seu ritmo próprio.

__ Tudo é vaidade e busca do Vento, percebe?

Sim. Palavras saídas da boca procuram o som do vento. Meu dentro as sopra para a loucura da vida quando canto. E se canto, enfim, sei o que escrever.

__ Cante, escreva e se possível dance. Toda a vida.

Perguntei então: É tudo?

__ É tudo o que eu tenho a dizer.

Me desprendi de sua presença. Assim, começo do meu nada para chegar no tudo dela.


Inspirado no livro "É Tudo" de Marguerite Duras

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