domingo, março 25, 2007

A VEZ DOS OLHARES



_____________Dois meninos pulam dentro da fonte que joga água para os ares, eles nadam. É o calor. Os pássaros fazem algazarra lá em cima dos coqueiros e de repente seus sons se sobrepõem a todo o resto. Quase me desequilibro tentando acompanhar essa festa no céu, volto o pescoço então, e continuo a andar.
______________Um casal está sentado conversando. Pelo olhar dela suponho que estão começando um enlace amoroso. Olhos vibrantes a mover-se de um lado para o outro, que mergulham na alma daquele que está a sua frente. Tento ouvir o que ele diz a ela de tão interessante, mas quando vejo já estou longe. Acho que nem ela ia saber contar quais seriam aquelas palavras.
____________Um cão espreguiça no sol, outro brinca com uma bola e um terceiro passeia dentro de um carrinho de bebê. É ele e não a criança que é cuidado por uma babá. Vejo à minha frente uma mulher bonita, perfumada, com os cabelos molhados de quem acaba de sair do banho. Ela leva sua cadelinha para passear. As duas têm o mesmo ritmo ao andar, o mesmo rebolado musical. Quase trombo nas duas quando a cadelinha resolve parar para sentir o cheiro das flores. A dona, ou melhor a mulher, espera. Nesse momento quem manda é a cadela.
_____________O homem todo de negro deita nas raízes de uma grande árvore para ler. De repente me dou conta de que quase todos estão lendo sentados em bancos, mas só ele se acomoda deitado no caule dela. Imagino que ele é o escorrer da árvore; é sua continuação. E ela, a árvore, aproveita para um carinho enquanto lê o que tem naquelas páginas. Por um segundo invejo aquele lugar de conforto do homem, e no seguinte, invejo a posição da árvore lá no alto. Mas, tenho pernas e vou.
______________ Dois jovens se beijam apaixonadamente. Continuam a se beijar... E todos os olhos se voltam para aquela cena. A água continua a cair do bebedouro, as formigas a descobrirem os caminhos na terra e a grama a exalar seu perfume tão próprio. Inspiro, bem fundo. Um homem caminha em direção contrária a minha, e ele sorri. Não é qualquer sorriso, é daqueles insistentes. É, ele está feliz, acha graça em alguma coisa. O que será? Cruza novamente meu caminho, e ainda ri!
________________Corro.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial