quinta-feira, maio 03, 2007

MINHA CIDADE EM MIM



Ando por cidades semi-alagadas. Nessa minha caminhada os meus pés estão constantemente submersos. A água é estranhamente limpa, cristalina. Todas as pessoas locais agem normalmente quanto a isso. Não usam sapatos, nem sandálias. Quanto à mim – tive que tirá-los em certo ponto da viagem. Estavam já se desfazendo. A pele e a água, dedos que nadam.
Agora ouço o barulho dos meus pés a caminhar. Já não sei mais onde estou e nem sei onde vou chegar. Olho para meus passos nessa água e a sinto na planta dos meus pés.
Deixo de sentir sede, nem fome mais eu sinto, ou frio, ou calor, ou mesmo sono. Não me canso mais como antes, não durmo e nunca penso em desistir. Simples, não penso.
Toda essa água que alimenta meu ser/sentir transborda de um só lugar que ainda vou encontrar. Não são rios, lagos ou mares que encharcam as ruas dessas cidades do meu trajeto. É uma fonte, um imenso chafariz que avisto ao longe. Uma enorme e redonda fonte luminosa que vaza água aos poucos e sempre.
Aproximo-me e o som da água sendo jorrada me toma o meu corpo. Vejo que dentro dela há jóias, muitas delas, formando um cenário colorido no espelho d’água. Colares de pérolas, pulseiras de rubis, anéis de ouro e diamantes. São tantas as jóias que chegam a escorrer junto com a água para o chão.
Uma pessoa cuida do lugar. É ela que vem até mim e diz: “Você pode escolher a jóia que quiser ter daqui. É só trocar por essa que você já tem no pescoço”. Olho para o meu busto e me surpreendo com um colar de ouro que nem sabia possuir. Era nem muito espesso, nem muito fino. Estava ali o tempo todo...
Tomei nas mãos o colar mais lindo e valioso que pude achar naquela fonte. Era tão brilhante que me cegava, tão grande que não fui capaz de usá-lo em meu pescoço por muito tempo.
Eu só queria voltar ao meu caminho pelas águas, e não pude deixar a minha jóia por outra naquela cidade.
Vou, ainda a mesma, mas agora sabendo quem era e o que possuía. Ouço de novo o som das águas correndo em meus pés que ainda caminham numa única e infinita direção.

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