segunda-feira, maio 21, 2007

ETERNO RETORNO




Ele foi andando pela linha de trem que sua família conhecia como morte. O fim do caminho de sua mãe foi ali. Estava abandonada, vazia de movimento como ela esteve. A estação agora estava só e esperava pela eternidade. Seus pés que pisavam nas britas esquecidas faziam o barulho mais alto que podia se ouvir ali em anos. A virilidade do trem já não mais penetrava o vazio. Não via malas, nem casais se despedindo.

Ele ouvia tudo - pássaros, vento, cachorros latindo ao longe e até uma abelha a sorver uma flor. Por mais de trinta anos evitou qualquer lembrança que o levasse de volta ao dia de sua perda maior. No meio da trilha do monstro resolveu, enfim, caminhar.

A mãe tinha estado ali, em vão, em busca de uma saída. Diziam que ela não escutava bem, diziam que estava quase surda. E foi nisso em que resolveu acreditar. Mas hoje percebeu que era impossível não ouvir os sons de um trem em movimento. Queria enfrentar aquele que tinha passado por cima dos sonhos de uma mulher pobre, sem estudos, mal amada e sem esperanças.

Esperou pela máquina rastejante. Ali, em pé como uma estátua ou caminhando, esperou. Nada. No fim da linha deu as costas ao seu primeiro passado. Tomou o ônibus para seguir ao endereço guardado no bolso da camisa. Agora era a vez de procurar seu pai.


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