LER MINAS GERAIS
“Grande Sertão: Veredas”. Esta obra define muito do que é a literatura mineira. Reflete um autor de extraordinária capacidade de transmissão do seu mundo, e foi resultado de um período de dois anos de gestação e parto. A história do amor proibido de Riobaldo, o narrador, por Diadorim é o centro da narrativa. Para Renard Perez, autor de um ensaio sobre Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, “além da técnica e da linguagem surpreendentes, deve-se destacar o poder de criação do romancista, e sua aguda análise dos conflitos psicológicos presentes na história”.O livro causou grande impacto no cenário literário brasileiro. Foi traduzido para diversas línguas e seu sucesso deve-se, sobretudo, às inovações formais. Crítica e público dividem-se entre louvores apaixonados e ataques ferozes.
Grande Sertão tornou-se um sucesso comercial, além de receber três prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; o Carmen Dolores Barbosa, de São Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro. A publicação faz com que Guimarães Rosa fosse considerado uma figura singular no panorama da literatura moderna, tornando-se um "caso" nacional. “Rosa foi responsável por um dos momentos mais marcantes da literatura mineira. Não só por Grande Sertão: Veredas, mas também pelos contos de Tutaméia e Primeiras Histórias”, avalia a ensaísta e poeta Vera Casa Nova - Doutora em Semiótica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professora da Faculdade de Letras da UFMG, com trabalhos publicados em revistas especializadas e livros no campo das artes e letras. Como definir a literatura mineira? Vera dá o tom: “É o traço de local absolutamente universal. O que parece uma contradição é o mais notável que existe.”
Prova disso é o outro também aclamado livro de Rosa, “Sagarana”. Um conjunto de sagas - histórias épicas, folclóricas, de amor, mistério e aventura que universaliza o sertão, mistura o popular e o erudito, fecunda de vida o mundo primitivo e mágico dos Gerais. "Lá em cima daquela serra, passa boi, passa boiada, passa gente ruim e boa, passa a minha namorada". Assim são seus primeiros versos...
C.D.A
Escrevendo sobre o seu mundo interior, o genial Carlos Drummond de Andrade, poeta nascido em Itabira em 1902, escreveu sobre cada um de nós. A dominante nos seus versos é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar. Dizia-se perseguido pelas suas mais famosas linhas: “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”. Entretanto C.D.A transpôs-se em cada uma das pedras da vida e nos deixou um dos mais belos conjuntos de obra já publicados.
Mesmo que listássemos todos os escritores que marcaram época em Minas e no Brasil, ainda faltaria algum, tamanha a nossa tradição literata. Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Ziraldo, Affonso Romano de Sant’Anna, Mário Prata, Rubem Alves, Rubem Fonseca, e Adélia Prado que costumava dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. "Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."
É por isso que cada dia viajo pra algum lugar em alguma página de um livro esquecido em minha estante globalizada.
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