quinta-feira, março 16, 2006

ESTAR VIVO E VIVER


Começo dizendo que a emoção foi tão grande que chorei. As lágrimas vieram por não acreditar que pudesse existir um lugar tão vivo como esse. A vida explode e te agarra com todas as unhas, te impelindo a sentir, sentir de novo e viver junto. Viver no sentido literal da palavra, em comunhão com a natureza à sua volta, e àquela que há dentro, lá num cantinho no seu interior.
Primeiro, as pessoas: são tão lindas, vixe! São felizes, douradas e falam em cadência musical. É preciso ouvi-las falando para conhecer o que é carisma, o que é simpatia... No tom de toda conversa há já um convite para entrar e se aconchegar. Quem vem do sudeste, pouco acostumado com este universo de palavras, chega a pensar que está ouvindo uma outra língua! O ritmo é outro, lindo, impossível não sorrir de imediato.
Depois, a areia: fina, tão fina que parece abraçar seus pés e lhes fazer um carinho. É um tapete macio te dando boas vindas e lhe pedindo para ficar. Pense... De um lado coqueiros altos balançando ao vento, de outro um mar tão verde e imenso que chega a doer. Porque é tão grande que meus olhos parecem não serem suficientes? O sol aqui também é maior e tão perto da terra que não é bom arriscar olhá-lo. De vez em quando ele te toca com toda força para lembrá-lo que aqui ele é o rei.
Pronto: peguei uma jangada e logo pergunto ao seu condutor, Bao: “Porque a cor do mar muda tão rapidamente aqui?” São os corais, pulsantes e vivos que tornam, de repente, a água azul marinho, ele explica.
Nem bem andamos três minutos e eles chegam, rápidos e aos montes. Peixes e mais peixes, de todas as cores e formatos. Cardumes inteiros acompanhando o barco sabendo que ali poderia estar o almoço do dia.
Foram os peixes nadando em volta e junto do barco, que fizeram meu coração pulsar como deveria sempre. Bao me dá a chance de tocá-los com um pouco de ração em uma das mãos, enquanto a jangada corria pelas águas. Nessa hora, muitos outros peixes, enormes, se aglomeraram em minhas mãos, brigando por um pouco do que havia nela.
No meio do mar, Bao atraca sua jangada. Só aqui é possível isso por causa da formação das piscinas naturais na maré baixa. São os corais, vivos, permitindo que a gente se sinta Deus, andando sobre as águas no meio do oceano. De repente, a água fica cristalina e um buraco enorme nos corais forma uma grande piscina. Bao me entrega uns óculos de nadar e me manda mergulhar. Eu? No meio de tantos peixes? Tão grandes? Sim, envolta por eles em todos os lados! Muitos me olham, me circundam, dão uma leve mordiscadinha e continuam seu trajeto. Eles não se intimidam, são acostumados com esses estranhos seres humanos. Tantas cores e tantos formatos, que Bao, citando todos os nomes acabou me convencendo de que é inútil tentar nomeá-los. Melhor sentir a vida envolta de mim. Fiquei quieta, naquele silêncio, ali em baixo de tanta água, e em cima tanto céu. Parece que consegui aqui com ajuda de um milhão de peixes, por uma hora, finalmente, voltar para dentro de mim.

A foto acima foi retirada do site: www.portodegalinhas.com.br

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