sexta-feira, junho 09, 2006

A PUREZA DO ARTISTA



Alberto da Veiga Guignard é carioca de nascimento. Em 1896 ele nasceria em Nova Friburgo. Porém, seu coração escolheu Minas Gerais e aqui marcou uma época que reverbera até hoje. Em 1944 mudou-se para Belo Horizonte e fundou a Escola Municipal de Belas-Artes, primeira escola de arte moderna da capital, onde exerceu grande influência sobre as gerações mais novas. Ligou-se profundamente às cidades mineiras de tradição barroca colonial, como São João del Rei, Sabará e particularmente Ouro Preto, onde passou a residir em 1960.
O contato com a arte colonial e os ares mineiros foi decisivo para a obra de Guignard. Seu estilo absorveu sem exageros as sinuosidades do barroco. As cores, em pinceladas leves, impressionistas pelo espírito e diluídas como aquarelas, sugerem a atmosfera límpida do planalto mineiro e a poesia que emana de suas velhas cidades. Com uma inclinação por temas populares, cujo lirismo e a pureza o aproximam dos artistas ingênuos, Guignard é considerado um dos mestres da pintura moderna brasileira.
No mesmo ano em que Guignard criava a hoje chamada Escola Guignard, acontecia em Belo Horizonte a primeira Exposição de Arte Moderna de Minas Gerais, reunindo Anita Malfati, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Portinari, Di Cavalcanti e Lasar Segall. O mestre formou uma importante geração de artistas plásticos como Amílcar de Castro, Chanina, Maria Helena Andrés, Sara Ávila, Yara Tupinambá e Wilde Lacerda.
Daqui dessas montanhas, afinal, só poderiam nascer artistas de renome internacional. Quem teve Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, como um dos seus primeiros mestres e exemplos, não foge ao chamado da arte. E se ainda fosse só Aleijadinho... Pois Manoel da Costa Athaide, o Mestre Athaide também deixou preciosidades nessa terra. Assim como João Nepomuceno Correia e Castro, Joaquim Gonçalves da Rocha e muitos outros que permanecem no anonimato por falta de documentação que lhes ateste a autoria.
O presente em Minas parece ser tão assustadoramente inspirador quanto seu o passado. Prova disso são as obras únicas em beleza de Petrônio Bax, Carlos Bracher, Fernando Lucchesi, Jorge dos Anjos, Marco Túlio Resende, Rosângela Rennó, Isaura Pena, Orlando Castaño e tantos outros.
O artista soberano nasce de quem menos se espera. Minas Gerais constantemente é prova e nascente disso. De um construtor de andaimes, um granjeiro, pintor de paredes ou um único homem que reúna todas as profissões num só gesto, ele nasce. Assim era Amadeu Lorenzato, que disse numa entrevista certa vez quando perguntado qual o seu estilo “Eu nem sei que estilo que é. É pintura! Dizem que é primitivo, que é ingênua, que é surrealista, eu não sei... Eu pinto aquilo que vejo, que me interessa.”


Este texto é parte da reportagem especial sobre cultura publicada na Revista Sagarana número 23. Clique aqui e visite o site da Revista.

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