sexta-feira, setembro 15, 2006

NÃO ADIANTA CHORAR PELO LEITE DERRAMADO

Entrei no laboratório me sentindo a última dos seres humanos. Em apenas uma semana minha vida tinha virado de ponta cabeça. Então, ficava me perguntando: “Porque eu? Porque eu?” Como se eu fosse a única pessoa a receber más notícias do próprio médico. Como se eu fosse a única a ter que mudar seus hábitos de uma hora para outra.
Com a senha número 39 na mão eu esperava a atendente me chamar, e de repente me dei conta de que o lugar estava completamente tomado de gente de todas as idades fazendo exames. Bom, pelo menos não sou só eu aqui, com certeza essas pessoas não estão aqui a passeio.
A primeira notícia chata que recebi foi de um exame de sangue que resolvi fazer a pedido de uma endocrinologista. Sim, resolvi procurar um médico para me ajudar a perder os três quilinhos a mais da gravidez que não me abandonam por nada. Eu sabia que ela não ia me falar nada muito diferente do que eu já estou cansada de saber, mas eu sou assim, quando coloco uma coisa na cabeça é melhor fazer, mesmo sem entender o motivo aparente. Aprendi a seguir a minha intuição. Lá na frente eu vou acabar descobrindo porque eu “encasquetei” em fazer algo aparentemente sem sentido e sem necessidade. E desta vez foi o colesterol.
“O colesterol está alterado. Não é nada sério, mas a partir de agora nada de leite, só o desnatado”, me diz o cardiologista. “Não tomo leite, Doutor”. “Você tem que tomar leite, senão pode ter problemas com a osteoporose quando estiver mais velha. Toma o desnatado, você acaba se acostumando. Hoje em dia as pessoas estão comendo até peixe cru, então leite desnatado é fichinha.”
Essa simples frase significou nas entrelinhas que não posso comer biscoitos, bolos, queijos gostosos e bem amarelos, chocolate, nenhum prato que leve creme de leite, ou seja, tudo o que há de bom nessa vida. “E não pode comer manteiga também”. “Não como manteiga, doutor”. “Troca pela margarina”, ele me disse fingindo que não me ouviu. “E mais: não pode comer carne gordurosa”. “Eu como principalmente frango, frango é bom, não é?” “É coxa e contra-coxa?” “Sim, ai, é tão gostoso e molhadinho!” “Não pode, tem gordura demais, mais até que o pernil. Tem que ser só o peito do frango ou peixe”. “Amo salmão!” “É o mais gorduroso que existe, escolhe outro, tá?”
Saí do consultório outra pessoa, uma pessoa light de uma hora para outra. Só a cabeça que não ficou nada leve. Ah, você deve estar se perguntando: O que a Carol foi fazer num cardiologista? Fui fazer um risco cirúrgico. “Não se preocupe, o coração vai muito bem. Olha só o desenho aqui, como ele bate bonitinho”. Dei um sorriso amarelo pensando que a minha vesícula não estava nem aí pra isso.
Tudo pronto para fazer a minha colecistectomia com colângio e resolver meu problema de colelitíase. É hoje. “Coisa de mulher velha e cheia de filhos”, disse meu simpático médico do ultra-som depois de avistar a minha vesícula completamente tomada por pedras. “É ela mesmo! Dá pra fazer um colar”, riu.
E eu, chorei.

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