sexta-feira, setembro 01, 2006

SALVEM PLUTÃO!



Então o homem decidiu que Plutão não é mais um planeta, e resolveu eliminá-lo do Sistema Solar. Provavelmente foi um homem do sexo masculino, um intelectual que mora em Praga, que numa grande Assembléia, resolveu riscar um planeta inteirinho do nosso mapa celestial.
Eles, os cientistas, começaram a achar que Plutão era muito pequeno, e estava diminuindo muito nos últimos tempos, sabe... Já o tinham tachado de “Planeta-Anão”, e não ficaram satisfeitos. E ele continuou diminuindo. É muito menor do que a Lua, do que a própria Terra. Insignificante o Plutão, gente!
Outro detalhe importante, que pesou na decisão, foi que a órbita de Plutão estava muito fora do convencional: devia ser paralela à órbita da Terra e dos outros planetas, mas já estava u-huuu, pra lá de Marrakesh – que por enquanto ainda é uma cidade de um ainda país chamado Marrocos. “É isso, pessoal: esqueçam Plutão!” Assim, notícia assim sem preparo, sem nada, nem um copo d’água com açúcar pra amaciar má notícia. Ponto final. A vida continua sem Plutão.
Lembrei-me das minhas aulas de ciências e me senti velha e ultrapassada. Sou do tempo em que Plutão existia, e eram nove os planetas. Gostava da sonoridade do conjunto deles: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. A gente falava em coro, em tom musical, na sala de aula e eu me sentia parte de algo monumental.
Como suportar o desconhecido que se segue? Nada mesmo é eterno, e nada é seguro. Assim vivo cada dia, sem saber o que vai acontecer no próximo minuto. Era certo, garantido: eu tinha a Lua, olhava para ela todas as noites da janela do meu quarto e me sentia segura. De repente, um calafrio me percorre a espinha: “A Lua, afinal, não estará sempre ali?” Não será para sempre o único satélite natural da Terra? Literalmente Tudo pode acontecer.
Se Plutão não é mais um planeta, posso de repente não ser considerada mais uma pessoa. Sou tão menor, sou tão menos significante do que um planeta! Um cisco, sim, na infinitude cósmica. Muitas vezes, um cisco em meu próprio planeta, em meu país, na minha cidade. Sim, sou bem pequena para o meu bairro, e algumas vezes me sinto assim dentro da minha casa. Se essa Assembléia da União Astronômica Internacional fosse me avaliar em dias nublados, eu corria um risco danado de ser excluída da face da terra. Afinal, sou muito fora de órbita! E não teria nenhum lugar para pedir asilo, já que o mais distante e pequeno planetinha já nem existe mais para nós.
Plutão é visto agora pela comunidade científica como o primeiro de uma categoria de objetos trans-netunianos. Acabaram de inventar essa denominação complicada, o que nas entrelinhas significa que transformaram uma pessoa em um vaso de decoração da sala da vovó.
Há uma certa poesia, entretanto, ao pensar agora em Plutão. É dos planetas aquele que não se encaixa nos padrões, não tem a exuberância necessária, nem atributos de cair o queixo, nem tem influência grande no Sistema. E ele se importa ou tenta se adequar aos nossos padrões? Claro que não! Está pouco se plutando...
Sim, pensar em Plutão é admitir em nós falhas, quebras, imperfeições, buracos e insignificância. Como ele. Porque por mais que não o consideremos, ele vai continuar onde sempre esteve.

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