sexta-feira, junho 23, 2006

EU ME CRIANDO


Que destino foi esse que te trouxe para dentro de mim, que depois de longa espera, num segundo me transformou em eterna úbere fêmea?
Que vidas tantas são essas que você em mim depositou, que ainda não consigo saber ao certo se são minhas ou se são suas vividas através de mim?

Que sintonia é essa que me faz adivinhar seu chamado, minutos antes de você mesmo descobrir que precisa de mim?
Que força é essa que você me dá, que mesmo depois de esgotada a última gota de sangue das veias, continuo carregando o mundo e te fazendo parte dele?

Que sentimento é esse que você me provoca, que num segundo me sinto plena e no seguinte, amaldiçoada?
Que certeza é essa que você me passa, tão efêmera, que ainda não sei ao certo quando ela começa e quando acaba? E se um dia a tive...

Que contradição é essa que você me provoca, que ao mesmo tempo em que não posso viver sem sua presença, penso em nunca mais ser, existir, respirar você?
Que choro é esse o seu, que entra em cada poro do meu corpo, numa mistura de raiva e dó?

Que amor é esse que eu sinto, que me faz ver meus próprios olhos nos seus?
Que olhar é esse, que me emana estrelas, cometas e vulcões?

E que beijo é o seu, um estalo anestesiante, que sempre me faz implorar por mais um?
E que abraço é o seu, que procura meu corpo para se salvar dos males do mundo?
E sou eu sua salvadora, sou eu quem te protejo? Sou eu quem te cria?
É, sim, você: a minha cria que me cria.


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