sábado, fevereiro 21, 2009

As pessoas estão rudes


Parece uma epidemia e, por si só pode causar diversas doenças do corpo e do espírito. Para quem faz e para quem convive com quem faz.
Estou constantemente sobressaltada, esperando o próximo mau educado que vai cruzar o meu caminho. Outro dia, ao pegar o ônibus e sorridentemente cumprimentar o motorista, tive dificuldades em achar as moedas certas para pagar a passagem. Em poucos segundos, a trocadora (sim o animal era fêmea) diz em tom ríspido:
__ Vai, vai, anda looogo!
Olhei para a porta do ônibus e realmente, se aglomeravam alguns passageiros na porta querendo entrar, sem poder, antes que eu liberasse a roleta, mas será que ninguém espera mais um minuto antes de ser brusco com alguém?! Eu nem respondi, fiquei muda. Para quem me conhece bem, sabe que poucas coisas me deixam muda. Eu falo o que penso, discuto, me coloco, peço explicações infinitamente. Descobri que a grosseria aleatória me emudece. Tem me deixado engolindo seco, pois não acho o que dizer. Minha cabeça gira, e naquele segundo, para mim, o mundo se acaba. Afinal, o que fazer? Educação é algo que se constrói desde muito cedo. Se um adulto age assim, caso perdido.
A desculpa é sempre a mesma. O tempo urge, temos que fazer várias coisas ao mesmo tempo; estamos cronicamente atrasados não sei para chegar aonde, mas estamos. Não custa porém, num ato último de esperança na espécime humana relembrar algumas coisinhas:
É de bom tom não atender ao telefone celular enquanto se conversa cara a cara com alguém.
Não é bom conversar ao telefone e fazer mil coisas ao mesmo tempo. Pare para ouvir bem a pessoa!
Não furar fila; não roubar vaga em estacionamento; cumprimentar (com um sorriso, se não for pedir muito)as pessoas que passam pelo seu caminho.
Não é bonito falar mal de alguém sem que essa pessoa esteja presente.
É de bom tom ceder seu lugar aos mais velhos;
É educado avisar com antecedência uma visita à casa de alguém; e quando for leve flores ou chocolates, uma lembrança qualquer como agradecimento...
Um e-mail, um telefonema depois de um encontro com amigos, agradecendo, também pega bem.
É muito feio se atrasar. O seu tempo vale tanto quanto o tempo da pessoa que está te esperando!
E se você marcou, não falte. Se vai desmarcar faça com bastante antecedência. Mesmo assim, não é legal ser visto como alguém que vive desmarcando compromissos: cansa!!!
Evite palavrões, deixe-os para momentos realmente de raiva e cólera. E fale baixo, num tom suportável e que não vá acarretar nenhum mal aos tímpanos alheios.
Não desdenhe, nem fale mal de algum evento que esteja participando como convidado. O silêncio sempre vale ouro, e dá um certo ar de mistério.
Deixar o telefone ligado no cinema, ou ficar falando o tempo todo sobre o filme, não é nada agradável.
Trate aqueles que te servem com respeito e muito carinho. É horroroso gente que trata garçon ou porteiro como escravo.
Dê gorgeta, elogie quando receber de alguém algo que te agrada.
Fumantes: preciso dizer? Really?
Jogue lixo no lixo, não maltrate os animais, enfim, a lista é infinita.
Tudo isso pode tomar um pouco mais do nosso tempo, mas com certeza vai deixar a todos mais felizes, mais calmos e tranquilos. Talvez, quem sabe assim, até pode te sobrar um tempinho para tomar um chazinho com alguém que você goste e que gosta muito de você também? A paz costuma vir de retorno às nossas ações.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Cara corajoso

Estava eu caminhando pelas ruas de Belo Horizonte, quando me deparo com uma daquelas curiosas figuras que fazem parte de qualquer cenário urbano: um homem magro, de pele queimada pelo sol, poucos e sujos dentes na boca, um chapéu surrado na cabeça, vestindo roupas rasgadas e manchadas, e com um nível considerável de álcool no sangue. Estava sentado no meio-fio quando passei por ele apressada. Com um sorriso largo no rosto, me chamou para dizer:
__ Ei, moça! Eu tenho coragem de namorar você!
O uso de tal substantivo conseguiu chamar minha atenção e até tirar uma gargalhada apertada, o que de certa forma o incentivou ainda mais para fazer o convite:
__ Vâmu?
Esperei no sinal de pedestres para atravessar a avenida lotada de carros. Foram quase dois minutos de silêncio. Quando avistei a luzinha verde, fui. E ele perdeu a namorada desejada:
__Vai com Deus, meu amor!
Nem só de coragem é feito o amor, mas de delicadeza para aceitar o impossível.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

AS NOSSAS BICICLETAS BRANCAS

A infância e a adolescência passaram e com elas as bicicletas. A caminho do Parque Ecológico da Pampulha vou tentando me lembrar como era a última bicicleta que tive. Era rosa, com um cestinho na frente e quase sempre passeava com ela pela Lagoa da Pampulha. Isso já tem muito tempo, mais de quinze anos. Sempre que pensava em andar de bicicleta novamente, muitos empecilhos me impediam. Bom, tinha que comprar uma e sabia que não ia ser barato. Incluem-se aí os acessórios todos. Tinha que ter lugar para guardar no meu minúsculo apartamento, e o mais importante: um bom lugar para pedalar freqüentemente. Sendo assim, desistia.
Com esses pensamentos ainda pairando no ar, caminho pelo Parque impressionada com sua magnitude e a promessa das sombras das inúmeras árvores ainda por crescer. Duas, três, quatro bicicletas passaram por mim tranqüilamente, andavam pela grama, percorriam felizes os vinte hectares de área verde do Parque. Eram iguais essas bicicletas. Brancas. Caminhando mais um pouco descubro um bicicletário em pleno Parque. Elas ficam lá só esperando um dono de ocasião querendo pedalar. “E de graça!”, me conta um visitante, minutos antes de montar em uma delas. Wander Gomes é policial, tem duas filhas e três bicicletas guardadas em casa. Ele explica que criança tem fase, agora as coitadinhas estão lá esquecidas, mas foi só ver essas do Parque que os olhinhos brilharam. Wander entregou sua carteira de identidade e saiu pedalando seus trinta minutos de direito depois de ouvir atentamente os “podes não podes” da brincadeira.
Descubro que essas vinte bicicletas brancas fazem parte de um projeto piloto chamado “Bicicletas para Todos”, implementado pela Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte em 2004. A idéia é antiga como o antigo continente, me explica um dos monitores do Parque. O projeto nasceu baseado no Plano das Bicicletas Brancas, implementado em 1968 em Amsterdã, capital da Holanda. Em um momento de agito político no país, o grupo anarquista Provos teve a idéia de distribuir pelas ruas da cidade uma série de bicicletas pintadas de branco. Elas seriam usadas livremente pela população. Quando chegassem ao destino, cada um deixaria a bicicleta para outra pessoa utilizar. A ação não foi bem aceita pelo governo, que recolheu as bicicletas com a justificativa de que a ação seria um incentivo ao roubo. O que não aconteceu na Pampulha. As bicicletas são as mesmas, nunca foram levadas ou depredadas.
Resolvo tomar coragem e pedalar. Enquanto espero na fila – era quase meio dia e mais de 40 pessoas já tinham pedalado naquele sábado - converso com uma psicóloga que mora em um apartamento em Contagem, Juliana Pereira. Ela me diz que vem ao Parque só para se exercitar e, como eu, não tem bicicleta. “Mas você poderia caminhar na sua cidade. Porque prefere bicicleta?” Pergunto, meio esquecida das sensações que esse ecológico meio de transporte provocam. Ela pensa um pouco e diz: É a brisa. Sem a bicicleta eu não sinto a brisa. Concordo com Juliana momentos depois, ouvindo o barulho do cascalho embaixo das rodas, apreciando uma bela vista a passar por mim ao sentir o vento acariciar os meus cabelos.


PROJETO BICICLETAS PARA TODOS
PARQUE ECOLÓGICO DA PAMPULHA – Av. Otacílio Negrão de Lima, 7111
FUNCIONAMENTO DO PARQUE : SEXTA A DOMINGO DE 8H30 – 17H
FUNCIONAMENTO DO BICICLETÁRIO: SEXTA A DOMINGO DE 9H – 16H30
PARA O EMPRÉSTIMO É NECESSÁRIO DEIXAR A CARTEIRA DE IDENTIDADE DE UM RESPONSÁVEL MAIOR DE 18 ANOS. É PERMITIDO O USO DAS BICICLETAS POR CRIANÇAS ACIMA DE 12 ANOS.
INFORMAÇÕES: 31 - 3277- 7100
ENTRADA FRANCA