quinta-feira, janeiro 25, 2007

EXPOSIÇÃO DE FOTOS E TEXTOS - CONVITE


Vai ser aberta a segunda exposição individual do fotógrafo Fernando Grilo, intitulada “DE PASSAGEM”, no dia 27 de janeiro, sábado, às 19 horas, no Café de Deus. São 12 fotos em preto e branco, no tamanho 30X40, realizadas em Belo Horizonte, Ouro Preto e Mariana. O fotógrafo fez o ensaio durante o ano de 2006 em estações de trem e metrô destas cidades.
Para dialogar com cada imagem da exposição, eu convidei 11 escritores e jornalistas para produzirem uma poesia, conto ou crônica. Os textos de uma página seriam os efeitos provocados pela foto. Ao ver as primeiras fotos produzidas para o ensaio me senti impelida a escrever. Algumas me perturbaram pela solidão, desapego ou pelo desconhecido e inusitado. Então pensei que outros escritores poderiam dar outras versões para aquelas imagens usando palavras.
Cada texto será exposto juntamente com a foto que serviu de ponto de partida para cada autor criar. Meu trabalho de produtora se desenvolveu para uma curadoria literária e das imagens. Tentei relacionar cada foto escolhida com a pessoa que ia convidar, dependendo do estilo literário ou da área de atuação de cada um. Como conheço bem os convidados, acho que acertei.
Pessoas amigas, que admiro muito e que, com muito carinho cederam suas obras pro projeto. E é só gente fera: Ana Lúcia Holck (psicanalista mineira, residente no Rio de Janeiro, membro da Escola Brasileira de Psicanálise. Doutora em Teoria Psicanalítica pela UERJ. Tese: “A Erótica e o Feminino”);
Antônio Godoi (arquiteto, paisagista, pintor, escultor e poeta mineiro ainda não publicado); Carolina Godoi - vai ter um texto meu também, um conto que depois publicarei aqui!
Elisa Arreguy Maia ( psicanalista do ALEPH Escola de Psicanálise. Por pura coincidência ama fotografia e os trens. E quase sempre precisa escrever);
Guiomar de Grammont (escritora ouropretana com três livros publicados e historiadora. Mestre em filosofia pela UFMG, doutora em Literatura Brasileira na USP, ela é diretora e professora do Instituto Filosofia Artes Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto.);
João Cláudio Moreira (jornalista, editor de imagens mineiro e poeta ainda não publicado); Lúcia Castello Branco (escritora carioca residente em Belo Horizonte, autora de diversos livros de ficção – como A FALTA; NUNCA MAIS; O AMOR NÃO VAZARÁ MEUS OLHOS - literatura infanto-juvenil e ensaio, no campo da Literatura e Psicanálise. É professora de Literaturas Brasileira e Portuguesa da Faculdade de Letras da UFMG, desde 1984.);
Luís Giffoni (escritor mineiro com 15 livros publicados. Alguns lhe renderam alguns prêmios, como da APCA, Bienal Nestlé de Literatura, Prêmio Nacional de Romance Cidade de Belo Horizonte, Prêmio Minas de Cultura e indicações para o Jabuti de Romance);
Maria Lutterbach (jornalista e colaboradora da revista literária MININAS. Escreve crônicas para a coluna A Cidade, no caderno Fim de Semana do jornal O Tempo, e também conta historietas no blog www.notasubmersas.blogspot.com);
Michele Borges da Costa (jornalista e secretária de redação do Jornal O Tempo);
Vera Casa Nova (poeta, ensaísta, pesquisadora e professora da FALE/ UFMG com os seguintes livros publicados: Canto Zero/ Horizontes de passagem/ Um q um K/ Corpos seriais/ Lucia Rosas/ Desertos e Rastros (poesia) Lições de almanaque (livro)/ Estação imagem: desafios/ Viver com Barthes(ensaios organizados).


O ENSAIO FOTOGRÁFICO

De Passagem

Por Fernando Grilo

"Estamos todos, neste momento, em fase de transição. Estamos neste momento assim como estivemos no momento anterior e estaremos no momento seguinte. Estamos sempre em transição. A vida, assim como o tempo, não pára. Se parou, é porque já não é mais vida e nem tempo. Passamos a vida buscando, encontrando, esperando e transformado. Constantemente as pessoas estão passando pelos lugares e por outras pessoas. Todos vão, voltam, vêm, esperam e voltam de novo.
A intenção desta exposição fotográfica é mostrar um pouco da transitoriedade constante da vida. As Estações de trem foram utilizadas no ensaio como uma metáfora da busca e da transformação. Afinal, a vida é o caminho e não o destino."

SERVIÇO:

Exposição “DE PASSAGEM” do fotógrafo Fernando Grilo com autores convidados.
Data da abertura: 27/01/07, sábado.
Horário: 19 horas
Local: Café de Deus
Endereço: Av. Guarapari, 530 – ljs01 e 02
Tel: 31- 3492-1055

sexta-feira, janeiro 19, 2007

ESTRADA NUA


Escrava do tempo
Escrevo no vento
Palavras de alento
Remeto e me tento

Digo que não me apressem
Peço que não me cessem
Lagrimas, não se sequem!
São rasuras que me aquecem

Refém do meu tino
Refaço o desatino
Insistência de menino
Que não sabe seu destino

sexta-feira, janeiro 12, 2007

NÃO EU



Uma estranha me diz bom dia
Vejo no espelho que ela habita
Não olho nos seus olhos
Tenho medo do que diria

Com um outro eu divido a mesa
Ele insiste em não ser
Não escuto o que me diz
Por não acreditar que exista

Saio de casa perplexa enfim
Nas ruas procuro meu rosto
Não falo com a multidão
Ninguém se lembra de mim

Volto à casa que não é minha
Uso objetos que não são meus
Enquanto não recomeça mais um dia
À estranha no espelho digo adeus.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

PASSE DE MÁGICA


Quando era adolescente, Juca teve uma experiência numa tarde de outono que nunca mais saiu das gavetas de suas lembranças. Não porque fosse algo tão impressionante assim, mas porque a partir desse dia ele teve certeza de que ele era uma pessoa especial e que coisas especiais iriam acontecer na sua vida. O acontecimento o provou, em questão de segundos, que a força do seu pensamento e do seu desejo eram tão grandes que nada poderia detê-lo.
Juca estava com alguns amigos num barzinho conhecido do bairro onde morava. Era a primeira vez, talvez a segunda, que ele saía sozinho com sua turma para se divertir. Daquele dia ele não se lembrava de muita coisa, só a sensação de liberdade e as possibilidades que a vida poderia oferecer a ele a partir daí.
O tempo voa em dias assim. Quando olhou no relógio viu que já estava no horário que tinha marcado com sua mãe de buscá-lo. Foi para o local combinado, um pouco afastado da mesa em que estava, na rua abaixo do bar. O vento soprava uma brisa gostosa e a lagoa em frente estava mais bonita e brilhante do que ele conseguiria imaginar. Levou um amigo com ele e ficaram lá parados, de pé, esperando e jogando conversa fora de menino. Tudo que diziam era tão importante que não tinha importância. Juca ia falando de olho no trânsito para reconhecer o carro da mãe.
De repente avistou um carrão daqueles! Era o seu preferido: importado, branco, quatro portas e com bancos de couro. Algo incomum naqueles dias... aparecer assim um carro importado tão bonito assim. Quantas vezes já não tinha cobiçado um desses? Deu um sorriso aberto, cutucou o amigo e disse brincando:
__ Olha aí, cara, esse aí é o meu carro. Tô indo então. Tchau, viu?
O amigo riu debochando enquanto observava o rosto estupefato de Juca quando o carrão parou exatamente na sua frente. A porta se abriu e a mãe de Juca saiu sorridente de lá de dentro. Ele não entendeu nada até que viu uma amiga de sua mãe no volante.
Ele entrou no veículo achando que era o Todo Poderoso e saiu acenando pro amigo que ficou lá parado esperando sua vez.
Até hoje, homem feito, Juca se impressiona a cada vez que quer algo com toda a força do coração e seu desejo não se realiza como num passe de mágica. Como naquela tarde de outono que não se repetiu nunca mais.